sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Lembrando minha Terra

Autor: Ruy de Carvalho

Conterrâneos eu vou contar
Invocando minha memória
Coisas distantes, passadas
De nossa querida Glória
Que se ditas com arte
Dariam uma bela história.

Comecemos a narrativa
Por nosso Grupo Escolar
Templo Sagrado e querido
Impossível de olvidar
Foi nele que abrindo os olhos
Aprendi o bê a ba.

Inda me lembro direitinho
Da minha primeira professora
Dona Alaíde Pedrosa
De conduta sedutora
Dona Alzira, morena
Era do grupo a diretora.

Outras por lá também passaram
Cada uma com seus pendores
Brandina, Jucy, Irene.
Todas dignas de louvores
Entre elas uma muito magra
Chamada Dona Dolores.

Havia uma bem baixinha
Cuja lembrança dela eu trago
Gostava de falar em público
Inda que o tema fosse vago
E por isto já descobriram
Que era Albertina Lago

Havia as irmãs do Padre
De conduta cristalina
Moravam por trás da Igreja
Cuja mãe era Evangelina
O Padre era Rodolfo
Puro Santo de Batina.

Uma delas era Noêmia
Pernas grossas de uma miss
Não dava bola a ninguém

Por mais que se insistisse
A outra ainda mais trancada
Atendia por Dona Alice.

Lembro do nosso Grupo
No seu prédio colossal
Naquele tempo distante
Não havia prédio igual,
E quem bem dele cuidava
Era o nosso Zé Pascoal.

Ainda sobre nosso Grupo
Mais uma recordação...
As meninas de azul e branco
E nós de cáqui e gurgurão
Ás escondidas se fumava
Nas pilastras do Pavilhão.

No Grupo houve um teatro
(e minha memória é bem acesa)
Havia um trio interessante
De lindo porte e voz coesa
Simbolizava as estações do dia
Que cantava com destreza.

Era noite, a tarde e a manhã
Lia Lopes, Lourdinha e Zelita
Todas três bem elegantes
Compunham uma turma bonita
E quem mais aplaudiu o trio
Foi a prima teresita.

Glória tinha várias figuras
Cada uma mais colossal
Comecemos por Nelson Holanda
De inteligência excepcional
As prosas em sua calçada
Eram verdadeiros festival.

Glória tinha João Guedes
Muito incompreendido
Seria grande jornalista
Se numa faculdade houvesse ido,
De porta em porta dava notícias
Que no rádio tinha ouvido.

Tinha as figuras simplórias
Que a gente não pode esquecer
Sá caidinha, Sazinho, Medalha
De uma pobreza de doer
Todos nós os ajudávamos
Na triste sina de viver.

Os apelidos sem maldade
A ninguém causava atrito
Eram Beta, Bebeca, Nezinho
Tôta, Zuquinha, Zé Chiquito
Rochinha, Catonho, Sazinho
Zefa Ganfão, Pituxa, Pirrito.

Havia os homens respeitáveis
Que todos deles se orgulhavam
Os irmãos Zeca e Ernesto
Na agricultura trabalhavam
Os Cassimiros também
Da lavoura se ocupavam.

Tinha as moças de outra faixa
Que nossos olhos admiravam
Lindalva, com sua beleza
Bebeca e Beta deslumbravam
Os bailes da prefeitura
Quanto prazer eles nos davam!

Havia apenas um Cinema
Com caubói na quarta-feira
Os roletos de Pé de Anjo
Completavam a brincadeira
Mas nada superava
O que fazia Zefinha Boleira.

Zefinha é inesquecível
Por um fato especial:
No bairro da Camponesa
Seus bolos não tinham rival
Andei pelo mundo inteiro
Não comi coisa igual!

Os brinquedos eram inocentes
Não havia Televisão
Aos céus, os Papagaios
No meio da rua, o Pião
E todos se misturavam
Numa bela comunhão.

Os amigos eram os mais diversos
Não se fazia seleção:
Boca de Bagre, Urso Branco,
Eram tratados como “irmãos”
E os banhos do Dique
Que Grande recordação!

Os lazeres eram singelos
Tudo se fazia com alegria
Marré Marré, passar anel,
Pulava-se de academia
Entre risos e folguedos
A infância transcorria...

Tinha João Cravo com sua venda
Luiz Ramos com a padaria
Catonho medicando
Na farmácia Santa Maria
Biu de Seu Né fazia milagres
Ministrando homeopatia.

Tôta da Rocha caprichava
Nos vendendo boa Pitu
A Prefeitura se orgulhava
Do fiscal Pedro Calulu
A gente passava prata falsa
Na venda de João Mandu.

Certa vez um mais crescido
Olhando-me disse; “estás um moço”
Veste uma calça comprida
Tu vais ver o que é um colosso
Na volta senti-me homem,
Conhecera o “Quebra Osso”.

Lembro das noites enluaradas
Quando a brisa soprava mansa
Eu na rua corria feliz
Com meus sonhos de criança
É por isso que minha terra
Não sai da minha lembrança.

Aqui pela vez primeira
Senti um VIBRAR NO CORAÇÃO
Um fogo estranho me irradiava
Em MAGNÍFICA comoção
Muitos amores depois se têm
DO PRIMEIRO NINGUÉM ESQUECE NÃO.

No alvorecer da adolescência
Ainda quase como um menino
Arrumei minha sacola
E na sopa com Orlandino
Parti pelo mundo afora
Buscando meu DESTINO.

Em muitos países viajei
Outras plagas conheci
Andei em terras estranhas
Mas da minha não esqueci
Minha alma sempre presente
No Torrão em que nasci.

Brindemos neste dia
Esta grande fraternidade
Onde os filhos desta Terra
Se abraçam com amizade
Manifestando cada qual
O SENTIMENTO DA SAUDADE...



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